abril 28, 2004

Areia para os olhos

Vou assistindo, mais ou menos passivamente, ao que se vai passando neste país. Na maioria das vezes com tristeza.
A novela do Túnel do Marquês, que para mim, moradora no interior do país, nem em aquece nem arrefece, tem que se lhe diga.
Eles avançam, eles recuam, eles acusam uns, eles acusam outros. E este "eles" é completamente anónimo e refere-se aos diversos actores da novela.
Porém existem coisas que me chocam e uma delas foi uma notícia que ouvi hoje à hora de almoço.

Pedro Santana Lopes enviou um comunicado para a imprensa onde dizia que pedia, encarecidamente, às pessoas pró túnel, que tinham preparado uma manifestação de apoio junto ao munícipio, que não o fizessem. Que agradecia e louvava o acto, mas que tal não seria apropriado, tendo em conta os últimos acontecimentos.

Isto confirma-se, ou é apenas uma óptima estratégia de marketing?
É que nas notícias que tenho vindo a ler, ainda não li nenhuma que focasse a constituição de um grupo de simpatizantes do Túnel do Marquês.
Provavelmente existirá, tal como outros grupos, tipo os amigos dos porquinhos-da-índia, mas até agora, até este comunicado do Presidente (ainda só da Câmara) Santana Lopes não tinha ouvido falar dele.

Peço, encarecidamente, ao porta voz de tal grupo que se manifeste de forma a comprovarem-se as palavras tão estratégicamente bem colocadas de Pedro Santana Lopes

O Mundo está mais pequeno

Foi com imensa tristeza que soube, do fim (espero, provisório) de mais um destino turístico. A Tailândia está em guerra.
Não, não sou hipócrita, também penso nas pessoas que lá estão, que lá vivem e que têm de conviver com o conflito.
Mas, visto daqui, deste lado da trincheira, tenho sobretudo pena de já não poder visitar a Tailândia em segurança.

Segundo o jornal Le Monde:

"Les provinces du Sud, zone économiquement déshéritée où la population est de confession musulmane à environ 90 %, connaissent depuis janvier des violences quasi quotidiennes que le gouvernement a successivement attribuées à des gangsters, des mouvements séparatistes ou des radicaux islamistes liés à des réseaux internationaux. Les membres des forces de l'ordre en ont été les premières victimes, mais des chefs de village, des moines bouddhistes et des civils ont également été abattus ou égorgés, tandis que les touristes étaient aussi visés. Des dizaines d'incendies criminels ont aussi réduit en cendres des bâtiments publics et des écoles."


Bali já era, Nova Iorque é o que sabemos, Madrid para lá caminha, a Turquia nem comentamos, o Sri Lanka começa agora a despertar para o Mundo, em relação ao Egipto começamos a acreditar, e estes são apenas ténues exemplos do que se passa no mundo.

Está a ficar mais pequeno.

O Turismo, considerado por muitos como a economia da paz, vê o seu território limitado.
Não se pode garantir segurança a quem quer visitar zonas de conflito e como tal, a maioria das pessoas conscientes, escolhe outros destinos.

Já não podemos comprar todos os sonhos.
Quer visitar a ilha de Phi-Phi? Talvez daqui a 10 anos quando finalmente se resolverem os conflitos que assolam agora a Tailândia. Por enquanto este destino não faz parte do mundo turístico.

Temos um mundo com manchas baças, que não deixam transparecer o nome das terras que por baixo delas sofrem.

É claro que isto não é obrigatório, quem quiser pode viajar para esses locais, ninguém os proíbe. Aliás existe mesmo um tipo de turismo especializado em teatros de guerra. Verdade!

Mas creio que longe de querer visitar um local, em troca, possivelmente, de uma vida, a maioria das pessoas quererá "dar a vida" para conhecer vários locais.

O mundo está mais pequeno, mas o turismo poderá ajudá-lo a alargar-se, porque, nada melhor para compreender uma civilização do que ter contacto com ela.

A compreensão, muitas das vezes, é a chave para o sucesso, é a estrada para o fim do conflito.




abril 26, 2004

25 de Abril, 30 anos e 1 dia depois

Ontem decidi festejar a minha liberdade num dolce fare niente. Decidi não assistir a paradas, não me entediar com programas de televisão, com programas comemorativos autárquicos, com cravos vermelhos e canções alentejanas.
O sol, apenas o sol me brindou neste dia pleno de paz, tranquilidade, harmonia, de desopressão. Poderia dizer que este dia foi um dia igual aos outros, não fosse a inércia. Mas não, foi diferente. Através dos relatos dos meus pais recuei 30 anos atrás, para saber o que realmente, emocionalmente, se passou nesse dia.

Quando se deu a Revolução tinha eu três anos e meio, não me recordo de nada. E mesmo depois, já na escola, poucos foram os relatos relativos a esta data.

Perguntei então aos meus pais onde estavam, o que sentiram, tiveram medo, saíram à rua?

Ambos estavam a trabalhar, e incrédulos ouviram as notícias que iam escorrendo pela rádio, sinal por si só, de que alguma coisa já tinha mudado.

"Naquele tempo ninguém ligava ao noticiário. Sabíamos que era tudo forjado, tudo para inglês ver. Deus, Pátria, Família, era tudo o que transmitia a televisão ou a rádio. Tudo em prol da moral, dos bons costumes, da nação una e totalitária"

Não saíram à rua, não cantaram a Grândola Vila Morena, naquele dia. Por uma razão muito simples, moravam na província e a acção desenrolou-se em Lisboa.

Mas, por dentro, e a medo, também por fora, sentiram pela primeira vez nos seus 25 e 30 anos de existência, que podiam finalmente ser livres, na verdadeira acepção da palavra.

Que sabemos nós, jovens de trinta anos, disto?
Nós que sempre fomos livres.
A quem nunca nos foi proibido ler o que quer que fosse, a quem nunca nos foi proibido ouvir a música de quem quer que seja, a quem nunca nos foi proibido viajar para onde quer que quiséssemos, a quem nunca nos foi proibido falar do que quer que seja, a quem nos é permitido ter blogs, para dizer bem ou mal de quem quisermos, a quem nos é permitido manifestarmo-nos quando não estamos de acordo com o sistema, a quem nos é dada uma educação, a quem nos é facilitado o crédito, a quem sempre teve liberdade?

Lembro-me tão bem de, passados já alguns anos do 25 de Abril, existirem ainda certos assuntos que eram tabu lá em casa. O hábito, a opressão e o medo tinham criado um hábito tão grande ao longo daqueles anos que foi difícil, para aquela geração, desprenderem-se dos receios que tinham, mesmo já com a liberdade garantida.
Por isso, a evolução foi lenta. Mas, passados estes anos todos, e tentando comparar os relatos dos meus pais com aquilo que vivo agora, não há escala com desníveis tão grandes que me permita fazer a comparação.

Talvez se tenham perdido alguns valores, sobretudo morais, fruto da exaltação da liberdade. Mas, não me venham com saudosismos salazaristas!
Podem-se ter perdido valores, mas em comparação com o que se ganhou, isso é nada. E se nós quisermos, podemos utilizar a liberdade conquistada para corrigir, precisamente, as arestas que resvalaram. Basta ter força e determinação. Basta revoltarmo-nos contra aquilo que achamos que está errado, porque temos liberdade para o fazer.
Porém, o português de hoje, acomodou-se à sua liberdadezinha, vai criticando daqui e dali, mas não quer é que o chateiem. (um pouco à semelhança do que eu fiz ontem, mas eu também sou filha do sistema).
Uns eternos insatisfeitos (e com razão), mas sem a determinação suficiente para fazer mudar as coisas.


“Naquele tempo desconfiávamos de todos e todos desconfiavam de nós. Era um clima de suspeita que pairava sempre no ar. E nós até sabíamos quem eram os informadores.
Davam-lhes uma arma e recebiam quinhentos escudos. Houve um dia em que o filho de um desses informadores levou a arma do pai para a escola.”


“Não podíamos juntarmo-nos na rua. Se estivéssemos três ou quatro amigos a conversar, vinha logo a polícia para nos mandar dispersar.”

“O teu avô esteve preso 12 dias por o terem acusado de ouvir ler o jornal O Avante.
Nós sabíamos quem é que o passava e até sabíamos onde é que era feito. Era ali para os lados de Alvaiázere.”


“Eu tinha dezoito anos quando decidi ir ao cinema ver um filme em que a história relatava a vida de uma jovem que tinha engravidado e tinha imagens do parto. Não me deixaram entrar, acharam que eu não tinha idade suficiente.”

“Lembro-me de uma vez, inconscientemente, ter andado a distribuir uns panfletos, que só mais tarde soube que faziam parte da campanha de Humberto Delgado. Podia ter sido presa por isso.”

“Eu votei só uma vez antes do 25 de Abril.
Eu nunca votei.
Não valia a pena, já sabíamos o resultado e ainda por cima, as pessoas que estavam na mesa de voto e que recebiam o nosso voto, marcavam o boletim se desconfiassem que éramos contra o regime.”


Ainda temos muito que aprender com a liberdade conquistada. Temos o direito ao voto e não votamos, temos uma democracia cheia de erros e não os corrigimos, temos uma economia de rastos, fruto de politicas desgovernadas e assistimos impassíveis. Temos a oportunidade de mudar o rumo deste país e não o fazemos.
Habituámo-nos por demais ao que nos querem dar e não exigimos mais do que isso.




Não tiveram medo que depois de um regime fascista ganhassem, com a revolução, um regime totalitário comunista?

“Não, aquela liberdade já ninguém nos tirava!”


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abril 24, 2004

Ode ao Sol

Eis o rosto de Apolo iluminado!
Eis o mundo coberto de alegria!
Quando sorri um deus, fica doirado
O céu que a sua raiva enegrecia.

Eis a luz da verdade
Aberta sobre a noite da mentira!
Eis a harmonia que nenhuma lira
Reproduz!
Ressuscitada e alada, a criação
Deixa morta no chão
A sombra secular da sua cruz.

Transparente e feliz, tudo parece
Representar num palco de magia;
Mas corre-se a cortina à fantasia
E a estranha maravilha permanece!

Nada tem a espessura, que mostrava
À cegueira de cada hesitação.
Nada tem um taipal de solidão
A rodear-lhe os passos.
Gestos, hostis na escuridão,
São abraços!

Verdes, amadurecem
Os corações;
Velhas, rejuvenescem
As ilusões;
E na mesma fogueira onde se aquecem,
Comungam sentimentos e paixões.

Miguel Torga




abril 23, 2004

Não Matem a Mata

Para quem conhece Tomar, fica aqui um pequeno artigo que escrevi para o Jornal "O Templário" sobre a desprezada Mata Nacional dos Sete Montes, símbolo da inércia do Instituto de Conservação da Natureza.
Para quem não conhece Tomar e a referida Mata, o mesmo artigo pode estender-se a dezenas de sítios deixados ao abandono por esse país fora.



Era eu ainda uma criança e já percorria as ruas e ruelas, caminhos e atalhos de árvores frondosas, cheiros primaveris e cantos misteriosos, da nossa Mata dos Sete Montes.
Corria pela alameda dos namorados, chapinhava nos tanques reais, passava a milhas da gruta da bruxa. Nomes que me ficaram na mente tal como as gratas recordações que tenho daqueles tempos.
Esta mata, assim denominada por estar confinada por sete colinas de acentuado relevo, constituída por 39 hectares e pertença do Estado, é o pulmão da cidade, do qual, diga-se de passagem, temos uma relação tal como o fumador em relação ao seu. Pensamos nele, mas não lhe ligamos importância.
Ela para ali está, abandonada às ervas daninhas, aos perigos estivais. E não passa um ano em que eu não pense que é desta que o fogo a consome. Mas não, ela resiste, tal qual um mendigo, que se arrasta pelas ruas, sem identidade, mas que nos diz que está ali e que precisa de uma ajuda para voltar à vida.

Das informações, poucas, que consegui apurar, a Mata está entregue à tutela do ICN, integrada na administração do Parque Natural da Serra d’Aire e Candeeiros e do Paúl do Boquilobo. E ali trabalha um funcionário desta instituição. Um, leu bem, um funcionário que tem a imensurável tarefa de a manter viva, limpa, cuidada.

Este espaço, parte integrante dos domínios conventuais, era um olival e foi com alguma surpresa e assombro que soube, já há alguns anos atrás, que na sua maioria as árvores, hoje majestosas, foram ali plantadas nos anos 40. Sim, com assombro, porque em criança sempre achei que passeava pelos caminhos que outrora princesas tinham pisado, escondidas do séquito, trocando bilhetes com jovens fidalgos.
A Mata tem assim, um cheiro secular, uma mística que a envolve, e eu imaginava que poderia ter sido ali que D. Inês tinha perdido a vida, em troca de um Jardim de Lágrimas qualquer em Coimbra.

Tirando uma ou outra peça teatral, realizado pelas nossas Fatias de Cá, ou um ou outro espectáculo integrado em alguma festa, ou um ou outro evento organizado por clubes desportivos, a Mata não tem vida animada. Só no Verão desperta um pouco, mas sempre o insuficiente para um espaço tão aprazível.
Não sei qual a relação existente entre o ICN e a Câmara Municipal, não sei se existem protocolos de interacção, mas o certo é que continuando assim, o futuro da Mata será negro, negro como o carvão que algum dia a pintará, se algo não for feito para a preservar.
Porque a preservação implica dinheiro, implica esforços, implica investimento estrutural. E esta preservação pode, sem dúvida, passar por um plano de animação e divulgação, bem organizado, que se auto financiaria em prol de uma defesa ambiental.
Isto é, as actividades que aqui fossem desenvolvidas teriam sempre uma percentagem de lucro que reverteria a favor da preservação das espécies, da limpeza e da reflorestação onde tal fosse necessário, um pouco à semelhança do que é feito com o ecoturismo.

Bastaria criar algumas actividades fixas, como fossem, a recuperação do circuito de jogging (há alguns anos atrás tão frequentado pelas famílias tomarenses), circuito de BTT, zonas para desportos radicais, aluguer de cavalos, feiras semanais, entre outras que a imaginação permitisse, bem como os espaços. Tudo isto em conjugação com algumas actividades temporárias como a realização de pedipapers, fotopapers, teatros de verão, work shops, festas temáticas, jogos tradicionais, acampamentos nocturnos, etc, etc.
Todas estas actividades realizadas numa conjugação de esforços entre o ICN, que cederia os espaços, a Câmara Municipal, que supervisionaria o projecto, entidades públicas e privadas, que o executariam e o patrocinariam e a população, que receberia de braços abertos um novo espaço de lazer e uma educação para a protecção e preservação da natureza.

É claro que este texto não passa de uma sugestão, talvez até de uma utopia, de uma forma de lançar ao ar algumas hipotéticas ideias que poderiam dar vida à Mata Nacional dos Sete Montes. Esperemos apenas que alguém as apanhe!

Reponha-se a verdade !

Li, apenas hoje, uma notícia que vem no Jornal Regional e quinzenal "Entre Cidades", do dia 20 de Abril e que diz o seguinte:

"O escritor José Saramago apresentou, no passado dia 5 de Abril, o seu último romance "Ensaio sobre a Lucidez", na Biblioteca Municipal António Botto, em Abrantes. Na mesma cerimónia, Saramago desmentiu críticas que apontam o dedo ao romance por fazer a apologia do voto em branco. (...) "Pessoas mal intencionadas dizem que ando a fazer propaganda do voto em branco, o que é literalmente uma estupidez", referiu Saramago.(...) José Saramago refutou que a sua obra faça o apelo ao voto em branco e respondeu aos críticos que afirmam que o voto em branco seja um perigo para a democracia:"Como é que pode pôr em causa a democracia se existe uma lei que diz que o voto em branco é possível?"

Ok, ok , já percebemos!

abril 22, 2004

José Saramago

Qual a coisa qual é ela que é vermelha e joga no branco?

Oh! Bolas! Já dei a resposta no título!

Ironias à parte, devo confessar que na minha opinião, e de mais uns quantos milhares de pessoas por esse mundo fora, José Saramago é um dos melhores autores contemporâneos do nosso Portugal (mesmo morando em Espanha - perdoamos-lhe a heresia - aliás o Durão já lhe pediu desculpas, penso que aconselhado por Manuela Ferreira Leite, que viu aqui um bom contribuinte para os cofres portugueses).

Bom, mas tirando o ser vermelho, herege e, por vezes, pouco ortodoxo, ele tem a sapiência dos antigos e uma escrita que está para os livros como os pastéis de nata estão para os bolos, devora-se com avidez.

Aliás, no top dos livros que mais gostei de ler está o Memorial do Convento, suficiente, na minha modesta opinião, para justificar o Nobel.

Somos transportados para Lisboa e Mafra do século dezoito, meio século antes do terramoto, acompanhados por Blimunda Sete Luas, que vê mais do que nós todos, por Baltazar Sete Sóis, que é maneta como Deus e já voou, pelo padre Bartolomeu, o voador, que inventou a passarola, por D. João V e o ouro do Brasil, por um povo miserável e um país esbanjador. Assistimos, em directo, à construção do Convento de Mafra, aos Autos de Fé e aos erros do passado que condicionaram o nosso futuro.

Um livro excelente, uma escrita inteligente, no qual apreciei, sobretudo, as ilações e deduções do autor.

Já por várias vezes tinha tentado ler Saramago, mas cada vez que olhava para aquelas páginas repletas de letras, sem espaços em branco (e sem figuras, diz a loira), apavorava-me com medo do tédio.
Mas o que as editoras deviam explicar é que o senhor poupa espaço para nos dar mais alimento. É tal a sofreguidão com que se lê, que as duzentas e tal páginas (que com pontuação convencional iam aí para as 400) parecem cem.

Depois desse já li outros do mesmo autor e de cada vez me surpreendo.
O útlimo ainda não li, mas devo-vos dizer que, para além de um grande escritor, ele é um óptimo estratega de marketing.

Com esta história toda do voto em branco, o homem conseguiu, mais do que nunca, divulgar a sua última obra e, possivelmente, arranjar um lugarzinho lá no PE.

Mas, ó senhor Saramago, um lugar de deputado europeu é bem pago, e juntando aos seus direitos de autor isso deve dar uma pipa de massa, não?

Veja lá, veja lá, tome cuidado, olhe que os seus camaradas ainda o vão chamar de capitalista!

Quem o avisa sua amiga é!

Obrigado Senhor Ministro

Ufa! Livra! Safa! Bolas! Irra, estava a ver que nunca mais! Graças a Deus! Até que enfim!

Felizmente que já posso dormir descansada, sem sobressaltos, sabendo que Portugal possui dois portentosos submarinos que nos vão proteger de infiéis, mouros, extraterrestres e outros afins.

E ainda dizem que o Paulo Portas não é amiguinho...
Suas invejosas!

abril 21, 2004

Bu(r)rocracias

Por mera coincidência, dei comigo defronte de um formulário do nosso querido, estimado e caro (no verdadeiro sentido da palavra) Ministério das Finanças, respeitante à Contribuição Autárquica.
Para além das inúmeras informações requeridas, as quais nem o mais bem formado engenheiro ou arquitecto conseguiriam responder de fruste, uma secção de cruzinhas.
Alto lá! Se são cruzinhas já é mais fácil! Pensa o comum dos mortais, mas a coisa não é assim tão simples, ou não estivesse eu aqui a gastar o meu tempo e o espaço navegável com estas palavras.
Pois de facto na tal secção de cruzinhas surge esta inegável charada, própria de mentes perversas, como devem ser as das pessoas que criam formulários, e muito em especial, formulários para o Ministério das Finanças:


Marque com um X as condições que a sua habitação NÃO POSSUI (assim, em maiúsculas e em bold):

Inexistência de cozinha
Inexistência de rede de esgotos
Inexistência de...
(por aí fora, que nem tenho aqui o formulário para copiar na íntegra)

E a coisa prolonga-se nas secções subsequentes.

Ora pergunto eu, que possivelmente, não tenho inteligência suficiente para compreender uma coisa tão simples (dirão os “fazedores” de formulários):
Não possui inexistência de cozinha??? Ora isto deve querer dizer que não possuindo inexistência, logo possui, não?
Ou então que não possuindo inexistência não possui porra nenhuma? (desculpem-me o calão)
Ou que não possuindo inexistência possui tudo?

Mas porque é que de tão simples se tem que fazer tão complicado?
Para quê a redundância?

Só vejo uma razão.
Para que assim, ninguém perceba puto do que está a preencher, nem os próprios funcionários das finanças (fazendo-os passar por mais estúpidos do que já são, salvo raras excepções).
Para que a "secção" reclamações esteja às moscas.
Para que o Povinho pague a factura mais alto do que devia.
Por acaso até são três razões.

Ou simplesmente, porque o Ministério das Finanças anseia por se transformar naquilo que já é, há muito tempo, para a maioria dos portugueses: o Mistério das Finanças.

Aurora

Começo hoje, mas podia ter sido noutro dia qualquer.
Até porque, não conheço ainda a causa nem o conteúdo deste blog. É mais um p'ró molho e para ser lido casualmente, por alguma mente desorientada com as agruras do trabalho e que aqui caia por engano.
Não sou intelectual, não sou politizada, não sou jornalista nem advogada, sou apenas mais uma com vontade de escrever. E, confesso, com vontade que me leiam. Sim, porque isto de não ligar aos comentários, é uma grande treta. Todos gostam de ser lidos. Faz bem à auto-estima.

Este é um diário de alinhavos, de esboços de ideias, de corte e costura, quando tal seja exigido. Ninguém escapa, nem o Governo, nem os políticos desgovernados, nem os benfiquistas, nem os portistas, nem os sportinguistas (quando as forças supranaturais o exijam), nem os vendedores “qué frô”, nem os calceteiros, os empregados das finanças, as vendedoras da Benetton, os alunos cábulas, os marrões, os tocadores de cravo, as lojas de chinesisses, as peixeiras do Bolhão, os limpa chaminés, os poetas, os prosaicos, o cão da vizinha que ladra durante a noite, os certinhos, os extravagantes, a burocracia, a ostracização, a insularidade, a popularidade, enfim, o mundo, a vida e o que me der na real gana.

E com isto termino com a oração da manhã:

Abençoada internet, filha de ciber e nética, que dás àqueles que não têm papel, livro ou jornal onde possam extravasar as suas euforias, um cantinho de luz, reflexo da modernidade, um espaço de escrita, reflexo da civilização.

Em nome do pai, do filho e de quantos aqui vierem.