Para quem conhece Tomar, fica aqui um pequeno artigo que escrevi para o Jornal "O Templário" sobre a desprezada Mata Nacional dos Sete Montes, símbolo da inércia do Instituto de Conservação da Natureza.
Para quem não conhece Tomar e a referida Mata, o mesmo artigo pode estender-se a dezenas de sítios deixados ao abandono por esse país fora.
Era eu ainda uma criança e já percorria as ruas e ruelas, caminhos e atalhos de árvores frondosas, cheiros primaveris e cantos misteriosos, da nossa Mata dos Sete Montes.
Corria pela alameda dos namorados, chapinhava nos tanques reais, passava a milhas da gruta da bruxa. Nomes que me ficaram na mente tal como as gratas recordações que tenho daqueles tempos.
Esta mata, assim denominada por estar confinada por sete colinas de acentuado relevo, constituída por 39 hectares e pertença do Estado, é o pulmão da cidade, do qual, diga-se de passagem, temos uma relação tal como o fumador em relação ao seu. Pensamos nele, mas não lhe ligamos importância.
Ela para ali está, abandonada às ervas daninhas, aos perigos estivais. E não passa um ano em que eu não pense que é desta que o fogo a consome. Mas não, ela resiste, tal qual um mendigo, que se arrasta pelas ruas, sem identidade, mas que nos diz que está ali e que precisa de uma ajuda para voltar à vida.
Das informações, poucas, que consegui apurar, a Mata está entregue à tutela do ICN, integrada na administração do Parque Natural da Serra d’Aire e Candeeiros e do Paúl do Boquilobo. E ali trabalha um funcionário desta instituição. Um, leu bem, um funcionário que tem a imensurável tarefa de a manter viva, limpa, cuidada.
Este espaço, parte integrante dos domínios conventuais, era um olival e foi com alguma surpresa e assombro que soube, já há alguns anos atrás, que na sua maioria as árvores, hoje majestosas, foram ali plantadas nos anos 40. Sim, com assombro, porque em criança sempre achei que passeava pelos caminhos que outrora princesas tinham pisado, escondidas do séquito, trocando bilhetes com jovens fidalgos.
A Mata tem assim, um cheiro secular, uma mística que a envolve, e eu imaginava que poderia ter sido ali que D. Inês tinha perdido a vida, em troca de um Jardim de Lágrimas qualquer em Coimbra.
Tirando uma ou outra peça teatral, realizado pelas nossas Fatias de Cá, ou um ou outro espectáculo integrado em alguma festa, ou um ou outro evento organizado por clubes desportivos, a Mata não tem vida animada. Só no Verão desperta um pouco, mas sempre o insuficiente para um espaço tão aprazível.
Não sei qual a relação existente entre o ICN e a Câmara Municipal, não sei se existem protocolos de interacção, mas o certo é que continuando assim, o futuro da Mata será negro, negro como o carvão que algum dia a pintará, se algo não for feito para a preservar.
Porque a preservação implica dinheiro, implica esforços, implica investimento estrutural. E esta preservação pode, sem dúvida, passar por um plano de animação e divulgação, bem organizado, que se auto financiaria em prol de uma defesa ambiental.
Isto é, as actividades que aqui fossem desenvolvidas teriam sempre uma percentagem de lucro que reverteria a favor da preservação das espécies, da limpeza e da reflorestação onde tal fosse necessário, um pouco à semelhança do que é feito com o ecoturismo.
Bastaria criar algumas actividades fixas, como fossem, a recuperação do circuito de jogging (há alguns anos atrás tão frequentado pelas famílias tomarenses), circuito de BTT, zonas para desportos radicais, aluguer de cavalos, feiras semanais, entre outras que a imaginação permitisse, bem como os espaços. Tudo isto em conjugação com algumas actividades temporárias como a realização de pedipapers, fotopapers, teatros de verão, work shops, festas temáticas, jogos tradicionais, acampamentos nocturnos, etc, etc.
Todas estas actividades realizadas numa conjugação de esforços entre o ICN, que cederia os espaços, a Câmara Municipal, que supervisionaria o projecto, entidades públicas e privadas, que o executariam e o patrocinariam e a população, que receberia de braços abertos um novo espaço de lazer e uma educação para a protecção e preservação da natureza.
É claro que este texto não passa de uma sugestão, talvez até de uma utopia, de uma forma de lançar ao ar algumas hipotéticas ideias que poderiam dar vida à Mata Nacional dos Sete Montes. Esperemos apenas que alguém as apanhe!
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