março 31, 2016

À procura do nirvana

Estou de frente para o computador. Olho a página branca e espero que a mesma se transforme num texto sincero, naquilo que efectivamente sinto, naquilo que penso, naquilo que sonho.
Quero nesta página branca expurgar os sentimentos, tentando depois relê-la com outra serenidade e decifrar o que me vai na alma. Não pensem que é fácil.
O mais difícil é sempre perceber o que nos vai na alma. Porque o que sentimos não é intrínseco ao nosso ser, é a soma, multiplicação e divisão dos factores extrínsecos que nos rodeiam. Se agora me sinto triste, dentro de momentos é possível que me sinta alegre, só porque algo ou alguém permitiu que isso acontecesse. Daí talvez se diga, e com razão, que a felicidade nada mais é que um acumular de momentos. Já tive muitos. Já me senti completa. Já me senti incompleta. E acredito que ninguém atinge o nirvana quando está na plenitude das suas faculdades. Talvez a solução seja a loucura!

outubro 09, 2014

Plenitude

Sinto-me tranquila, um pouco nostálgica demais para aquilo que considero ser o nível saudável de nostalgia, mas ainda assim, equilibrada.
Talvez sejam os anos, a situação do presente, ou até simplesmente o facto de há pouco tempo ter iniciado algumas atividades, que me ajudam a esvaziar a mente de assuntos maçadores e a enchem de harmonia e beleza.
Não almejo muito mais do que isto.

janeiro 04, 2014

Há uns meses atrás, estive à conversa com um americano de meia idade que esteve hospedado por uns dias no meu Hostel. Um casal simpático, do Arizona, que viajam em veleiro e decidiram parar uns dias em Portugal enquanto o veleiro está a ser reparado em Lagos. Alugaram um carro e aqui vieram ter. Adoraram  Tomar e o meu Hostel. Duas coisas que me agradaram a mim também.
Entre o convite que recebi para os ir visitar ao Arizona, logo que a viagem deles termine (dentro de alguns anos...) e a simpatia que emanam, falámos da vida e de sonhos.
Disse que um dos meus sonhos seria fazer a route 66 atravessando os Estados Unidos. Como o mundo cada vez é mais pequeno e encontramos pessoas de todo o planeta, a casa deles fica a metros da mítica route 66 e como tal estou convidada para me instalar na mesma.
Por muito interessante que fosse a nossa conversa não pude deixar de ficar frustrada a triste com o futuro que me espera. Por muito que me esforce, e tenho esforçado, acreditem, e por muito que as coisas evoluam, não vou ter a oportunidade de ter rendimentos que me permitam, também eu, um dia, viajar pelo mundo como este casal de meia idade apaixonado.
I love my country, disse eu. E amo, é verdade, mas esta relação parece daquelas de "quanto mais me bates mais eu gosto de ti" e eu não sei até quando terei capacidade de aguentar este masoquismo.
Normalmente as pessoas envolvidas em relações desse género, acreditam que um dia o futuro será melhor e que o outro irá mudar e irá ser melhor pessoa e permitir-lhe ter um vislumbre de felicidade. Talvez mais alguns momentos do que aqueles que vivem no presente e viveram no passado com esse outro.
É óbvio que nunca é assim, o outro nunca mudará. A personalidade já está formada. Por muito que se esforce para se adaptar, num momento de ansiedade, de stress, de nervos, de descontrole, voltará a ser ele mesmo.
Assim será talvez também o nosso país. Penso eu. Afinal um país é feito de pessoas, daquilo que são, da terra que cultivam, da cultura que emanam e que lhes foi incutida. Somos todos culpados. Não há inocentes.
E por muito que eu quisesse um amor grande e perfeito, tenho de me resignar e viver esta relação de amor/ódio.


setembro 30, 2013

Vamos a votos!

Quando chegamos aos quarenta, sentimos mais o peso da responsabilidade. Não só da responsabilidade inerente à nossa vida, aos filhos, aos compromissos, aos projectos que lideramos ou dos quais fazemos parte. Há também uma responsabilidade social que se entranha e que nos faz pensar, agir de forma diferente e talvez mais "socio-conscientemente". 

Ontem foi dia de eleições e estive a acompanhar os resultados. Orgulhosamente digo que vários amigos eram candidatos em listas de vários concelhos do País: Vila Real de Santo António, Portimão, Tavira, Rio Maior, Tomar, Santarém, só aqueles de que me lembro e que são amigos mais próximos.

Já enviei os parabéns aos que ganharam, guardarei uma palavra para mais tarde para os que não venceram. Não houve derrotados. Houve falsas tentativas de vitória. Todos são vencedores, porque se preocupam, porque lutam.

Tenho orgulho na minha geração, em ver que somos participativos, que nos importamos, que combatemos mesmo quando sabemos que a batalha está perdida logo à partida.

Tenho pena que ontem, durante todo o dia, aqueles que o meu pai acertadamente chamava de “parasitas” tenham passado o dia nas redes sociais a incitar à abstenção. Aqueles que nada fazem, que não participam, que criticam não propondo alternativas, não apresentando soluções. Os que provavelmente ficaram deitados no sofá, a rir-se dos que se importam, dos que lutam, dos que se sacrificam para tentar, no meio desta neblina escura que paira sobre o nosso País, mudar alguma coisa, abrir um caminho de esperança.

Mas como os que se importam são benevolentes, continuarão a lutar para lhes oferecer, também aos parasitas, um País com mais alternativas e com linhas mais rectas de futuro.

novembro 22, 2012

Observo


Observo. Sobretudo, observo. E quando dos meus olhos já transbordam imagens que se cruzam, entrecruzam e que se querem libertar do aperto da retina que as retém, então verbalizo o que sinto e transformo-as em palavras.
Por vezes ficam presas na garganta, recusam-se a sair e desenvolve-se uma luta física entre a vista e a voz, uma a querer libertar-se a outra a recusar-se à liberdade. Há um conflito de interesses difícil de ultrapassar. Normalmente são as palavras cinza as que a garganta não quer libertar, aquelas que não queremos dizer para não enublar o arco iris que nos envolve. Mas para quê querer um arco iris se é de plástico e só serve de cenário? A realidade vai muito para além do arco iris e aliás, já alguém alguma vez conseguiu tocar um? São etéreos e tudo o que assim é, vive no mundo celeste, no dos sonhos que tentamos alcançar.
Por isso o melhor é mesmo passar para palavras o que vou observando:
Tenho quarenta e poucos anos. Se transformarmos a vida num gráfico semelhante ao da vida de um produto, estou agora no ponto cimeiro, logo após a curva descendente. Deveria deixar-me ir no escorrega e deslizar lentamente para os anos dourados de bodas de ouro e pantufas quentinhas. Mas isso é só para quem se resigna, ou para quem viveu numa outra época em que isso seria possível. Hoje em dia as coisas mudaram. Hoje em dia, o que no dia anterior era adquirido passou a estar hipotecado. A profissão, os rendimentos, a materialidade e imaterialidade da vida. Tudo se vende, tudo se compra. Exceto a dignidade, claro! (e mesmo assim, ainda há quem a tente vender…).
A verdade é que o mundo mudou e assistimos a uma mudança de paradigma, a uma mudança brutal de conceitos, de valores e sobretudo de modos de vida para os quais não estávamos habituados. E a mudança dói, especialmente quando não fomos nós que a desejámos.
Andamos todos confusos, perdidos neste mar de instabilidade, sem porto de abrigo à espera de um cais que nos acolha, sem rumo, sem mapa, navegando à bolina até encontrar terra firme e sem saber onde encontrá-la. Esperamos. E enquanto esperamos sentimos a insegurança como nunca a tínhamos sentido. Tornou-se quase palpável, física. Demasiado real, ensombrando-nos a vida.
Na minha idade as minhas preocupações, e de acordo com o gráfico da vida, deveriam ser apenas a incerteza da escolha do local de férias… (ou talvez não, porque eu não sou de me resignar, e cada dia são mais 24 horas para poder fazer algo de novo). Neste momento as minhas preocupações são saber onde estarei amanhã. Um dia de cada vez, um dia a seguir ao outro e outros chavões do género que curiosamente se aplicam hoje na perfeição, quando não há mais nada para dizer.
Ler notícias é constatar esta realidade. Ver televisão é constatar esta realidade. As imagens preenchem-me a retina. Transborda. Tenho de verbalizar.
Querer é poder, dizia o outro, não sei bem quem, mas alguém que se permitia esses luxos. E eu bem que queria ter uma visão seletiva, mas não tenho esse luxo.

outubro 30, 2012

A p*** da testosterona

((Hoje no dia dos meus anos, até podia ter escrito um texto diferente. Podia ter abordado um tema que tanto amo: os meus filhos, ou falado nas coisas simples da vida que tanto me apaixonam, mas ao invés disso, apeteceu-me escrever sobre a minha condição humana, sobre as minhas fraquezas, as minhas dúvidas, os meus medos, a minha incapacidade de amar para além do amor incondicional que tenho nas duas criaturas maravilhosas que trouxe a este mundo. Eu, que sempre fui uma apaixonada inconsequente, que sempre me entreguei ao amor, que sempre dei tudo o que tinha, e que tanto sofri nestes últimos anos. Afinal a vida é mesmo como alguns descrevem, é um vulcão quente no qual o gelo se vai instalando.))

Não me acho uma diva, nem mesmo uma estrela descendente. Tenho uns quilos a mais, sou roliça, portanto (um nome simpático para chamar às gordinhas). Talvez tenha dois dedos de cara e mais uns de testa, o que nem sempre é fator de vantagem no mundo feminino versus masculino. Dizem que os homens preferem as burras, as que não fazem muitas perguntas e que os fazem sentir mais espertos.
Talvez assim seja, talvez não. Conheço dos dois géneros, mas confesso que esses estão em maioria. (Provavelmente não me ando a dar com as pessoas certas... o que me faz  também reflectir sobre a vida, mas tudo isto daria lugar a outro post a roçar a filosofia...).
Seja como for, parece que agrado. Dizem. Por vezes, sinto-o.
E a verdade é que não falta escolha na selva que se esprai pela vida de uma mulher livre.
A questão está precisamente aí, na escolha. Aí se desenvolve o problema de saber com quem queremos gastar o nosso tempo tão precioso a partir dos 40, sem o desperdiçar. Momentos de qualidade, a partir de uma certa idade, são ouro, são diamantes bem esculpidos. E como já dizia a loura sexy: "diamonds are a girl's best friend".
E a questão mor, que se sobrepõe a todas é: será que quero mesmo gastar o meu tempo com conversas futeis, dissimuladas, conversas de engate mais que gastas que me enjoam e me fazem pensar que provavelmente estaria melhor se tivesse queimado os soutiens e me tivesse virado para o lado mais másculo do mundo feminino?? Não tenho resposta...
Basta um sorriso, basta uma conversa simpática para o nosso "opositor" partir do principio que a coisa "está rolando". Não interessa se a conversa é boa, se é interessante, se até tenho opinião, se o que digo faz sentido. Interessa que estou ali disponível para conversar e portanto, à partida, de acordo com o raciocinio masculino, interessada!
Por isso me fiz tão pedra, por isso me fechei tão apertado, por isso deixei de acreditar no amor, na paixão, no romance e em tudo o mais que rodeia aquilo que eu hoje acho (sinto) que é o "nojo" do amor.
Desisti. Já não existem histórias de amor.
Eu própria sou o problema, bem o sei. Eu própria o alimento.
Por muito que no sonho imagine um romance e um amor desmedido como já tive, não consigo libertar-me e dar-me para que isso aconteça.
Sim, é preciso darmos muito de nós próprios. É preciso perder o orgulho, ser humilde e abrir o peito para deixar entrar o calor do sentimento.
O que acontece é que a quem em vez do sentimento entrou gelo, fica com uma cicatriz de memória que não lhe permite abrir-se sem ser a força de escopro, de martelo batido com punho de aço e muito calor para derreter a dor instalada.
E assim, fechada como uma concha, penso que talvez a pedra não ceda, o vidro não quebre, a pérola não estale e eu consiga aguentar sem sofrer mais uma e outra vez. Talvez assim alcance uma felicidade sonhada, sem luta, sem ansiedade, sem arrependimento, sem dia seguinte.
O problema é a p*** da testosterona que se infiltra em todo o lado, tal como deus nos espaços mais impenetráveis quando chamamos por ele. E é ela que me faz acreditar que afinal sou humana e não consigo sobrepor-me a esta minha humanidade. E por muito que o texto atrás até possa fazer sentido, a verdade é que em oposição também penso, e provavelmente mais vezes, que os anos passam, não fico mais nova, como dizia o outro, and life is too short to be wasted!
Não foi há muito tempo que comecei a ter umas reflexões matemáticas que se aplicam à vida, e que resultaram no seguinte: daqui a 8 anos tenho 50, a menopausa e uma libido menos ativa. A testosterona passa a testosteronazinha. Não é uma equação que me agrade, mas é o resultado da sua resolução. E isso meus amigos, é que não pode ser!
Não que eu pense que o desejo é o mais importante na vida, mas é algo que nos aquece e nos faz lembrar que o sangue ainda circula.
Por isso, mais do que tudo e sobretudo neste dia, celebremos a vida. Continuemos a ter esperança que o amor ainda existe, anda para aí dissimulado em paixonetas de romance de cordel à espera que alguém escreva a verdadeira obra prima que dará direito a Nobel ou até só a Saramago, mas que será premiado pela história que contém.
Vou vivê-la, até já!

outubro 17, 2012

MURAKAMI I LV U

O primeiro que li foi Kafka à Beira Mar. Comprei-o pelo título. Achei piada alguém ter tido a audácia de escrever um romance sobre um personagem da literatura tão intrincado como os seus romances. Desenganei-me logo a seguir. Nem Kafka do processo fazia parte, nem aquele mundo era tão negro e burocrático como o que o romancista checo pintou. Aqui tratava-se não simplesmente de um mundo fantástico, mas também de um romance povoado pelas mais fantasiosas personagens com personalidades sempre únicas e vincadas. Kafka afinal era apenas uma delas. E quando digo apenas, não a quero resumir a algo linear, porque nenhuma das suas personagens o é. A partir daí li o que pude e não pude. Ainda não li todos, felizmente. Tenho ainda uma reserva de Murakami que me aguarda até à saída do seu próximo romance. E para além disso, são romances daqueles que podemos guardar para poder reler com prazer, descobrindo sempre novos caminhos. Não cansa, não dói.
Mundos complexos, personagens complexas, que vivem uma vida, contraditoriamente, quase ascética, embora povoada de prazeres, prazeres simples. A contemplação, as paisagens, o mundo urbano de Tóquio, as diferenças sociais e um mundo não tão perfeito e justo como poderíamos pensar que fosse o japonês. A música clássica, o jazz, a gastronomia japonesa (cuja desrição me leva sempre a crer que é muito mais saudável do que tudo o que possa ter comido antes), a organização, a limpeza quase obsessiva, são também agumas das presenças quase imperceptíveis no mundo Murakami, mas que invloluntariamente assimilamos e quase queremos mimetar no mundo real.
Os meus hábitos de leitura têm ciclos, é certo. Ainda há pouco lia Gonçalo M. Tavares com devoção, Valter Hugo Mãe com admiração, José Luís Peixoto com satisfação, mas Murakami já povoa o meu universo há muitos anos e continuo fiel, fã, humilde admiradora de um grandioso escritor que me fez descobrir uma cultura e um pensamento diferentes mas que afinal em tanto se assemelha ao nosso. Como qual, mesmo com histórias diferentes, com distâncias geográficas e culturas paralelas o ser humano se resume aquilo que é, um ser humano com as suas fraquezas intrínsecas. Enquanto ser humano identifico-me com essas fraquezas.
Se é um escritor de culto, como a imprensa internaconal o cataloga, então eu definitivamente entrei para essa religião, seita ou o que lhe queiram chamar. Mas ninguém me cobra nada, apenas recebo.
Escrevi esta nota quando Murakami mais uma vez foi indicado para o Prémio Nobel. Ainda não foi desta. Outros valores se levantaram. Também não terei, por enquanto, a oportunidade de conhecer a obra do recente nomeado, visto que as suas obras não foram editadas no nosso país. Mas algo se confirma no meio disto tudo, o império do sol, de facto, tem dificuldade em ganhar guerras e o mundo está a começar a tremer desde que a China acordou, tal como previu Alain Peyrefitte.



janeiro 29, 2007

Resultou :-)

Brevemente...

... o Alinhavos acordará da letargia em que tem estado confinado de há uns meses para cá. Ele e a sua autora.