julho 28, 2004

Secretaria de Estado do Turismo, que futuro?

Antes de mais peço desculpa a quem por aqui passa por ter um post tão longo, mas as últimas alterações deste novo Governo fizeram-me reflectir sobre alguns aspectos, com os quais tenho mais empatia e daí as longas linhas abaixo escritas.


Um dos principais problemas de Portugal ao nível do sector turístico é a falta de homogeneidade no que respeita ao número de turistas por região. Temos três regiões chave para o Turismo: Algarve, Lisboa e Madeira, que abrangem entre 80 e 90% do sector e temos o restante território nacional com taxas de visita baixíssimas.

O interior do país menosprezado face ao litoral, e face às grandes regiões do sector.

Certo é que todas as regiões portuguesas têm características que as tornam únicas, têm recursos naturais e culturais excelentes, que com as devidas infra-estruturas de apoio se poderiam transformar em belíssimos produtos turísticos, não só para os nacionais, mas também para os estrangeiros.

Faltam meios, falta iniciativa e falta sobretudo apoio do Poder Central.

Por isso, não compreendo esta decisão do executivo do Dr. Santana Lopes de sediar a Secretaria de Estado do Turismo no Algarve. Se o objectivo era descentralizar, objectivamente está correcto, mas se analisarmos mais profundamente a questão, chegaremos à conclusão de que esta opção é um erro.

As regiões que deveriam beneficiar mais com esta descentralização deveriam ser exactamente aquelas onde o sector ainda está pouco desenvolvido, para que o senhor Secretário de Estado do Turismo e respectiva equipa se apercebessem das lacunas aí existentes e criassem políticas que as favorecessem.
Aliás, como é do conhecimento público, muitas destas regiões não têm sequer outro tipo de sector económico que as sustente, e o turismo é o escape económico para estas populações. Mas a falta de profissionalismo, a falta de investimentos e muitas vezes, a falta de iniciativa, tornam esta tarefa impossível.

O discurso governamental, já desde os tempos de António Ferro e da sua “política do espírito” que aponta como principal veículo da imagem do país e de desenvolvimento económico do mesmo o Turismo. Embora não possamos concordar com a ideologia de António Ferro e do seu Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), mais tarde transformado no Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), que tinha o turismo como meio de difusão da imagem de um país feliz consigo próprio, como um meio de manipular a identidade popular portuguesa, temos no entanto que concordar que este poderá ser um meio de desenvolvimento económico, sem ideologias baratas, sem utopias.

Não seremos os primeiros, nem seremos por certo os únicos.
As apostas noutros sectores, que à partida não conseguem competir com os dos outros países, não será um erro, mas talvez um desvio daquilo que poderá ser o futuro de Portugal.

Não teremos que cultivar, necessariamente, o turismo barato, para as massas, mas poderemos apostar num turismo cultural, de elites informadas, que trariam divisas para Portugal, e que levariam daqui, sem dúvida, as melhores recordações, misturado com o turismo balnear que nos caracteriza já há tantos anos e que nesta altura importa sobretudo reformular.

O Algarve tem vindo a perder receitas face a Lisboa, que na minha opinião reflecte um desgaste prolongado, um desacerto de planeamento a todos os níveis.
Resta-nos apenas a esperança que a Secretaria de Estado do Turismo sinta isso mesmo, e que pelo menos no Algarve as coisas melhorem em termos de qualidade.

No futuro... bom no futuro, talvez tenhamos que pensar em reformular toda a estrutura das Organizações Nacionais de Turismo, porque até agora ainda nenhum dos governos conseguiu encontrar o modelo ideal.

E este do Dr. Santana Lopes também não será de certeza a solução!

Sem comentários: