julho 02, 2004
O menos importante foi o futebol.
Venha o que vier, o menos importante foi o futebol.
Os onze jovens heróis destas terras abandonadas pela Glória já há tantos anos, conseguiram mover montanhas de pudor, de descrença, de abandono patriótico e fazer fervilhar o bom sangue luso.
O mal deste país é a falta de vontade de ser grande, o complexo da pequenez.
Lembro-me de há uns anos quando fiz uma viagem a Nice, na Cote d’Azur, ter tido uma fenomenal discussão com o dono do Hotel onde fiquei instalada, por não nos terem proporcionado as condições que à partida tínhamos comprado. No meio de tal discussão, o francês vira-se para mim e diz-me: vous avez le complexe de la petitesse! Parce que vous êtes portugaise. Atirei-me ao ar! Chamei-lhe chauvinista, e disse-lhe que ele não tinha noção do que era Portugal.
Mais tarde, em Cannes, um grupo de jovens franceses (ignorantes) perguntou-nos de onde éramos. Respondi, Portugal. E um deles, armado em esperto, perguntou-me se ficava na América do Sul. Atirei-me ao ar, novamente, e disse-lhe que o que ele precisava era de estudar um pouco mais, ou então de começar a ler uns livros.
Noutros países por onde passei, tirando a Amália e o Eusébio, poucas outras associações se faziam ao nosso país. Os únicos países por onde passei e que fiquei com a sensação de que as pessoas olhavam Portugal como grande, foram países onde o povo é pequeno, pequeno face à situação económica que os acolhe, tal como a Roménia, Marrocos ou o Brasil.
Nos países onde as comunidades emigrantes são maiores, os autóctones reconhecem-nos a eficiência, a honestidade, a capacidade produtiva, mas quer queiram, quer não, e espero não estar a ferir susceptibilidades, somos emigrantes, classe inferior. Sei que, nalguns casos, esta tendência se está a inverter (ao fim da 3ª ou 4ª geração!).
Mas, agora, reflectindo nestes pequenos episódios e olhando para trás, penso que de facto, Portugal, desde há 500 anos que é pequeno. E aqui não falo em termos geográficos, falo em termos de altivez.
Portugal foi mal gerido ao longo de todos estes séculos, perdemos não só o poder, mas também o orgulho, a fé.
Perdemos até a vontade de nos defendermos. E para um país onde metade da população vive só de aparências, é quase antagónico que tal aconteça.
Queremos ser melhores que o vizinho, ter uma casa maior, ter um carro mais potente, ir passar férias mais longe, e depois? Depois rendemo-nos aos encantos dos outros países e reconhecemos a nossa pequenez.
Não quero ser arrogante, tal como o francês de Nice, nem quero ser satírica tal como o jovem de Cannes, mas acho que temos de ter orgulho no que é nosso.
Defender o que temos de bom e tentar remediar o que temos de mau.
Lá não é como cá, é uma expressão gasta. Já não entra no ouvido.
Tenho orgulho em ser portuguesa, sempre tive. Sempre tive orgulho no meu país.
Sei que somos feitos de uma raça vencedora. Dêem-nos causas.
E terei mais orgulho em saber que este foi o Europeu mais bem organizado de toda a história dos Europeus, do que se formos os vencedores no final do torneio.
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