junho 18, 2004

Tomar, "contemporânea"


Já há bastante tempo que não dedico um post a esta cidade que admiro, que amo e onde vivo.

Tomar é uma cidade cheia de encantos, repleta de história, que transpira frescura e respira tradição, e portanto poderia ser de estranhar que aqui tivesse nascido, há pouco mais de um mês, um Núcleo de Arte Contemporânea no Museu Municipal de Tomar, podendo mesmo pensar os menos informados, que tal arte nada tem a ver com a cidade. Porém de estranho nada tem, porque a cidade apesar da sua insularidade é uma cidade vivida, onde acontecem coisas e, por vezes, as mais inesperadas.

Exemplo disso é o Fringe, Festival Internacional de Dança Contemporânea, que começa neste mês de Junho e que aqui é realizado há cinco anos, sendo já uma referência a nível nacional e até internacional. Este Festival organizado por Fausto Matias, bailarino, coreógrafo e tomarense, começou por ser realizado em Tomar, numa tentativa de descentralizar esta forma de arte, e este ano, tal como no ano anterior irá realizar-se em várias cidades portuguesas, numa tentativa de alargar essa descentralização. Segundo as palavras de Fausto Matias (in Público), “o objectivo deste Festival é não só mostrar o que de melhor se faz em dança contemporânea e improvisação, mas também facilitar o acesso à cultura.”

Recomenda-se.

No que toca a outro tipo de arte, neste caso as artes plásticas, temos então o novo Núcleo de Arte Contemporânea, nascido graças à determinação de um outro ilustre tomarense, neste caso José-Augusto França, crítico e historiador de arte. Nascido no centro histórico de Tomar, mas que muito cedo se mudou para Lisboa, onde teve a oportunidade de conviver com artistas plásticos, entre os anos 40 e 80, e através dos quais reuniu a sua colecção.

Obras de Joaquim Rodrigo, António Pedro, Marcelino Vespeira, António Dacosta, Noronha da Costa, Fernando Lemos, Fernando de Azevedo, José de Guimarães, Vasco Costa e João Cutileiro estão agora à disposição de quem as queira admirar. A colecção, com mais de 50 nomes e cerca de 100 obras, é forte em obras surrealistas, visto que José-Augusto França esteve ligado ao Grupo Surrealista de Lisboa.
O crítico e historiador de arte já tinha doado ao Museu do Chiado seis pinturas e 53 desenhos e segundo ele existem ainda duas ou três obras que quer doar a este museu de Lisboa.

No entanto, numa tentativa de “arrumar a sua vida”, segundo palavras do próprio, e aos 81 anos de idade, decidiu, e bem, deixar à cidade onde nasceu um testemunho da sua vida e um contributo para a descentralização da cultura, procurada, também, por Fausto Matias, com o Fringe.

De louvar.


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