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Ninguém duvida que Picasso é o pintor mais importante do século XX, porém a obra de Picasso não ocuparia o lugar que ocupa se a todas as suas indubitáveis qualidades, não se juntasse o ter esvaziado o caminho que a pintura moderna vinha seguindo, pelo menos desde Manet e os impressionistas. O objectivo era encontrar um método de representação da realidade no quadro, coerente com a condição superficial do mesmo. Esse passo foi dado, precisamente, por Picasso.
Pablo Ruiz Picasso, nasceu em Málaga numa família vinculada à pintura. O pai, José Ruiz Blasco, ganhava a vida como professor de Desenho, primeiro em Málaga e depois na Corunha e em Barcelona.
Embora já na cidade galega tenha começado os seus estudos de Belas-Artes, foi em Barcelona, para onde a família se mudou em 1895, que completou a sua formação e iniciou a sua carreira de pintor.
Depressa se manifestou a excepcionalidade dos seus dotes artísticos, e a menção honorífica obtida por Ciência e Caridade, em 1897, parecia ssegurar-lhe um brilhante futuro como pintor académico.
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Longe de seguir esse caminho Picasso integra-se na boémia barcelonesa de princípios de século. A capital catalã era então um centro artístico de grande vitalidade.
Picasso frequenta a cervejaria 4 Gats, onde conhece todos os artistas catalães dessa época.
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Gravura do Bar 4Gats, em Barcelona
Em 1900 viaja pela primeira vez a Paris. Um ano depois faz a sua primeira exposição francesa e em 1904 instala-se no mítico Bateau-Lavoir de Montmartre, onde coabitou com outros grandes nomes da pintura.
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Aqui viveu a primeira fase da sua obra, os chamados períodos azul e rosa, que se prolongam até 1906.
O interesse pela escultura ibérica e pelas máscaras africanas do Museu Trocadero indica uma nova evolução nas suas obras de 1906.
Nesse ano e no seguinte trabalha em As Meninas de Avinhão, ponto de partida para o cubismo.
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A etapa de formação da linguagem cubista é quase uma história privada urdida em conjunto por Braque e Picasso. Só um grupo restrito de amigos, quase todos escritores, como Apollinaire, tiveram acesso a ela.
Os quadros de Picasso até 1909 continuam a ter uma clara preocupação com a forma, perfilando e regularizando os volumes.
Seguindo a lição de Cézanne, a pincelada ganha um valor, antes de tudo, construtivo, daí que Picasso renuncie aos contrastes de cor e os quadros tenham esse ar característico de herméticos tons cinzentos.
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Em 1912, a linguagem cubista já estava suficientemente madura para reproduzir a realidade mediante processos não naturalistas. O passo seguinte será dado ao incorporar um pedaço de vime numa pintura que representa uma natureza-morta. Nascem, assim, os papiers collés, primeira manifestação de collage, que admite a aplicação na tela de qualquer material estranho à pintura.
Este é outro contributo do cubismo para a arte moderna.
A pintura transforma-se num objecto, um elemento dotado de especificidade e autonomia.
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Se o quadro admite diferentes materiais e texturas, pelas mesmas razões pode admitir o contraste de cor, assim, entre 1914 e 1921, os quadros de Picasso exibem uma rica paleta.
O cubismo encerra o seu ciclo e fica totalmente construído como linguagem artística de valor universal.
Depois da I Guerra Mundial, a cena artística parisiense, durante alguns anos regressa aos seus valores tradicionais, a que Picasso não é alheio. Assim, entre 1917 e 1923, alternando com os quadros cubistas, Picasso pratica um certo classicismo mediterrânico que recupera o seu antigo interesse pela forma em termos quase escultóricos. Nos finais da década de 20 e começos da década de 30, introduz elementos fantásticos nesse tipo de espaços pictóricos convencionais.
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Para os artistas espanhóis residentes em Paris, como Miró ou Picasso, as décadas de 30 e 40 são uma etapa de emoção contínua devido à guerra civil e à II Guerra Mundial. O apoio de Picasso à legitimidade republicana em Espanha aumenta a sensibilidade do pintor ao pulsar do seu tempo, que já mostrara de outras maneiras desde a sua juventude.
Os recursos do cubismo, como a sobreposição do rosto de frente e de perfil, são aproveitados agora com critério expressionista para evocar os monstros do horror bélico.
O eixo desta etapa é Guernica, pintado sob a emoção do bombardeamento devastador da pequena vila basca pela Legião Condor alemã.
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De entre a abundante produção picassiana do pós-guerra, duas séries de quadros ligadas entre si resultam especialmente significativas: Os Ateliers, de 1956 e As meninas, de 1957. Poucas vezes Picasso se entregou de forma tão concentrada ao puro prazer da pintura, demorando-se na vibração da cor sobre a tela.
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Os últimos anos da vida e a obra de Picasso legaram à posteridade a ideia de uma vitalidade lendária, difícil de imaginar num homem que morreu com noventa e dois anos. A sua produção entre 1960 e 1973 é muito extensa e abrange todas as disciplinas, desde a gravura em linóleo e a água-forte até à pintura de cavalete e à escultura.
O denominador comum é a liberdade de execução e o liberalidade de géneros e maneiras.
O virtuosismo que acompanha Picasso desde os seus juvenis ensaios académicos, traduz-se agora numa autêntica celebração da pintura em si mesma.
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