novembro 18, 2004

Hipocrisias



Uma "liberdade" escolhida


Nunca considerei o tabaco como uma droga, embora haja quem o intitule assim. Será uma droga porque cria hábito e dependência física. Sim, mas prejudica apenas aquele que o consome e que o faz em plena consciência de que o está fazendo, prejudicando a sua própria saúde, não provocando efeitos "colaterais", como as drogas ou o álcool provocam.

Pelo que tenho lido nestes útlimos dias e fazendo jus ao dia mundial do não fumador - anteontem - o Governo avançou com as novas directivas respeitantes ao consumo do tabaco, as quais acho mesmo que fazem parte da evolução da saúde da própria sociedade, pese embora que esta deveria ser uma evolução pessoal e não obrigatória.

Temos então que em meados do próximo ano será proíbido fumar em locais públicos fechados e quanto a isso acho que não haverá problema de fiscalização. Será apenas mais um dos regulamentos a cumprir no que toca a regras de higiene e segurança. Mas pelo que li, e normalmente acredito naquilo que leio, não será proíbido fumar no local de trabalho desde que este tenha um bom sistema de ventilação, ou coisa que o valha. Então e aqui como é que vai funcionar a fiscalização? Deixa-se ao critério do empregador? Lá voltamos nós ao lema de George Orwell de que somos todos iguais, mas uns são mais iguais do que os outros. Porque não acredito que o governo esteja a pensar criar uma brigada de fiscalização que percorra o país inteiro, visitando todos os locais de produção, com vista a controlar a aplicação da lei.

Se querem que assim seja e que a lei seja cumprida então talvez valesse mais a pena fazer como o Butão, proíbirem completamente a venda do tabaco!

Hipocrisia, mas não tanto. Até porque o tabaco é uma boa fonte de rendimento para os cofres do Estado.

Ou seja vamos apenas ser mais um Estado, que quer (aparentemente) dar um ar de moderno e evoluído, quando todos sabemos, que é, precisamente o contrário.
Quando todos sabemos que falta muito caminho a percorrer até nos termos de preocupar com estes pormenores éticos.
Quando todos sabemos que num país à beira do abismo resta-nos apenas este infímo prazer que é o de acender um cigarro e por breves minutos esquecer.

Não esquecendo, no entanto, de que estamos a falar de uma obrigação e não de uma consciencialização colectiva, o que nos leva a supor que está a ser quebrado um dos direitos da cidadania: o direito à diferença, ou se quiserem, o direito da não exclusão.

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