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setembro 30, 2013

Vamos a votos!

Quando chegamos aos quarenta, sentimos mais o peso da responsabilidade. Não só da responsabilidade inerente à nossa vida, aos filhos, aos compromissos, aos projectos que lideramos ou dos quais fazemos parte. Há também uma responsabilidade social que se entranha e que nos faz pensar, agir de forma diferente e talvez mais "socio-conscientemente". 

Ontem foi dia de eleições e estive a acompanhar os resultados. Orgulhosamente digo que vários amigos eram candidatos em listas de vários concelhos do País: Vila Real de Santo António, Portimão, Tavira, Rio Maior, Tomar, Santarém, só aqueles de que me lembro e que são amigos mais próximos.

Já enviei os parabéns aos que ganharam, guardarei uma palavra para mais tarde para os que não venceram. Não houve derrotados. Houve falsas tentativas de vitória. Todos são vencedores, porque se preocupam, porque lutam.

Tenho orgulho na minha geração, em ver que somos participativos, que nos importamos, que combatemos mesmo quando sabemos que a batalha está perdida logo à partida.

Tenho pena que ontem, durante todo o dia, aqueles que o meu pai acertadamente chamava de “parasitas” tenham passado o dia nas redes sociais a incitar à abstenção. Aqueles que nada fazem, que não participam, que criticam não propondo alternativas, não apresentando soluções. Os que provavelmente ficaram deitados no sofá, a rir-se dos que se importam, dos que lutam, dos que se sacrificam para tentar, no meio desta neblina escura que paira sobre o nosso País, mudar alguma coisa, abrir um caminho de esperança.

Mas como os que se importam são benevolentes, continuarão a lutar para lhes oferecer, também aos parasitas, um País com mais alternativas e com linhas mais rectas de futuro.

novembro 22, 2012

Observo


Observo. Sobretudo, observo. E quando dos meus olhos já transbordam imagens que se cruzam, entrecruzam e que se querem libertar do aperto da retina que as retém, então verbalizo o que sinto e transformo-as em palavras.
Por vezes ficam presas na garganta, recusam-se a sair e desenvolve-se uma luta física entre a vista e a voz, uma a querer libertar-se a outra a recusar-se à liberdade. Há um conflito de interesses difícil de ultrapassar. Normalmente são as palavras cinza as que a garganta não quer libertar, aquelas que não queremos dizer para não enublar o arco iris que nos envolve. Mas para quê querer um arco iris se é de plástico e só serve de cenário? A realidade vai muito para além do arco iris e aliás, já alguém alguma vez conseguiu tocar um? São etéreos e tudo o que assim é, vive no mundo celeste, no dos sonhos que tentamos alcançar.
Por isso o melhor é mesmo passar para palavras o que vou observando:
Tenho quarenta e poucos anos. Se transformarmos a vida num gráfico semelhante ao da vida de um produto, estou agora no ponto cimeiro, logo após a curva descendente. Deveria deixar-me ir no escorrega e deslizar lentamente para os anos dourados de bodas de ouro e pantufas quentinhas. Mas isso é só para quem se resigna, ou para quem viveu numa outra época em que isso seria possível. Hoje em dia as coisas mudaram. Hoje em dia, o que no dia anterior era adquirido passou a estar hipotecado. A profissão, os rendimentos, a materialidade e imaterialidade da vida. Tudo se vende, tudo se compra. Exceto a dignidade, claro! (e mesmo assim, ainda há quem a tente vender…).
A verdade é que o mundo mudou e assistimos a uma mudança de paradigma, a uma mudança brutal de conceitos, de valores e sobretudo de modos de vida para os quais não estávamos habituados. E a mudança dói, especialmente quando não fomos nós que a desejámos.
Andamos todos confusos, perdidos neste mar de instabilidade, sem porto de abrigo à espera de um cais que nos acolha, sem rumo, sem mapa, navegando à bolina até encontrar terra firme e sem saber onde encontrá-la. Esperamos. E enquanto esperamos sentimos a insegurança como nunca a tínhamos sentido. Tornou-se quase palpável, física. Demasiado real, ensombrando-nos a vida.
Na minha idade as minhas preocupações, e de acordo com o gráfico da vida, deveriam ser apenas a incerteza da escolha do local de férias… (ou talvez não, porque eu não sou de me resignar, e cada dia são mais 24 horas para poder fazer algo de novo). Neste momento as minhas preocupações são saber onde estarei amanhã. Um dia de cada vez, um dia a seguir ao outro e outros chavões do género que curiosamente se aplicam hoje na perfeição, quando não há mais nada para dizer.
Ler notícias é constatar esta realidade. Ver televisão é constatar esta realidade. As imagens preenchem-me a retina. Transborda. Tenho de verbalizar.
Querer é poder, dizia o outro, não sei bem quem, mas alguém que se permitia esses luxos. E eu bem que queria ter uma visão seletiva, mas não tenho esse luxo.