Por vezes a vida impede-nos de fazermos o que mais gostamos. Passear na praia, viajar por lugares recônditos, passar horas à conversa com amigos, ler um bom livro, ver um bom filme, ouvir uma boa música, olhando o infinito.
Escrever no meu blogue tem dias em que se insere no parágrafo anterior, tem outros em que nem por isso. Encaro-o como algo que me apetece de vez em quando. Sem obrigações, sem prazos para cumprir, sem satisfações a dar.
Ultimamente não me tem apetecido, nem tenho tido muito tempo para me lembrar dele. Aliás já me apercebi que me lembro mais vezes dele naquelas épocas em que o trabalho não aperta tanto. Nessas épocas, talvez por necessidade de manter a mente ocupada, me lembre mais dele.
Continuo, no entanto, fascinada por este mundo que é a blogosfera. Adoro viajar de um blogue para o outro. Ler sobre os mais variados assuntos, sabendo que aqui não há imparcialidade, porque são as opiniões de individuos que escrevem no seu diário, mesmo sabendo, claro, e até com uma boa dose de vaidade para alguns, que ele será lido por muitos.
Desculpem a modéstia, mas não é o meu caso.
Neste momento, o trabalho ainda aperta, mas não sei se foi a época mais descontraída da Páscoa, se a saudade que já aperta, que me fez voltar. Voltar ao que era, ao que já foi, ao que é, ao que será.
Uma incógnita sempre.
Um livro aberto também.
Uma página favorita marcada num livro de poemas.
Um quadro de que se gosta.
Uma paisagem conhecida.
Um nascer e renascer, qual fénix em tempos cinzas.
Prelúdio
Reteso as cordas desta velha lira,
Tonta viola que de mão em mão
Se afina e desafina, e donde ninguém tira
Senão acordes de inquietação.
Chegou a minha vez, e não hesito:
Quero ao menos falhar em tom agudo.
Cada som como um grito
Que no seu desespero diga tudo.
E arrepelo a cítara divina.
Agora ou nunca - meu refrão antigo.
O destino destina,
Mas o resto é comigo.
Miguel Torga, In Orfeu Rebelde