setembro 17, 2004

Galeria de Setembro - SALVADOR DALÍ (1904-1989)





Foram comemorados há pouco tempo o centenário do nascimento de Dalí e os 25 anos da sua morte.
Apesar de ter morrido fisicamente em 1989, Salvador Dalí ficará para sempre presente na história da arte, pela sua originalidade, pelo seu génio arrebatador.

Dali não só pintava o surrealismo como pretendia ser o surrealismo.

A sua excentricidade, o seu delírio eram estonteantes e ficaram assinalados não só na sua obra artística, cinematográfica, como nos locais que frequentou ou nos registos televisivos que protagonizou.

Admiro-o, sobretudo, por ter dado azo à sua "loucura", sem complexos.

Quem não gostaria de, por breves instantes, poder estravazar os sentimentos desvairados que por vezes nos assombram?
Eu gostava, sem dúvida!



Dali iniciou-se na pintura aos 10 anos, durante um Verão passado em Molí de La Torre, próximo de Figueras, onde nasceu.
Nesta sua estadia em casa do pintor Pitxot conhece o Impressionismo e a pintura francesa dos finais do século XIX e será com estas referências que pintará vários membros da sua família nos anos seguintes, bem como as paisagens costeiras de Cadaqués e seus arredores.
Nesta época o que mais chama a atenção na obra de Dalí é o extraordinário rigor das composições, o domínio do equilíbrio e a perícia.
Não será pois de estranhar que com apenas 20 anos as prestigiosas galerias Dalíau de Barcelona tenham organizado as suas primeiras exposições individuais.



Paisagem de Cadaqués (1917)



Auto-Retrato (1919)



Avó Ana cosendo (1921)



Rapariga sentada de costas (1925)


Quando chega a Madrid em 1921 Dalí passa a conhecer as novidades artísticas do Cubismo e do Futurismo e interessa-se sobretudo pelo Cubismo.
Os impulsos vanguardistas partilha-os com os seus colegas de residência, Luís Buñuel e Frederico García Lorca.Apesar das suas experiências cubistas, continua com as paisagens mediterrânicas com um tratamento classicista, semelhante ao que utilizava Picasso na época.



Auto-retrato Cubista (1923)

Em 1929 Salvador Dalí junta-se ao grupo surrealista de Paris fundado por André Breton, o qual o apoiará na sua primeira exposição parisiense, na Galeria Camille Goemans.
Os seus primeiros quadros surrealistas datam de 1927, onde alguns dos temas tipicamente dalinianos já estão presentes, como a putrefacção e o comestível.
Dali é recebido em Paris com admiração e converte-se imediatamente num dos pintores mais destacados do grupo.
A sua primeira exposição parisiense e a estreia do filme Um cão andaluz
dirigido em parceria com Buñuel, marcam o início de uma carreira ascendente que já nada poderá parar.




Carne de Galinha Inaugural (1928)



Asno podre (1928)



As anamorfoses ou imagens deformadas, que só aparecem quando se observa o quadro de determinado ponto fazem parte da retórica da pintura desde o Barroco, Dalí transforma este recurso de oferecer pelos menos duas leituras visuais de um quadro num dos seus temas favoritos e pratica-o até às suas últimas obras.



O enigma sem fim (1938)



O Grande Paranóico (1936)



Metamorfose de Narciso (1937)

As primeiras obras da juventude mostram um pintor cuja perícia sobeja ao vê-las com os mais difíceis desafios da técnica: o empastado, o ritmo da pincelada, a gradação da matéria.
A tudo isto renunciará Dalí, refugiando-se numa estrutura preta e lisa, em que o protagonismo cede lugar a um desenho aguçado, cortante e preciso. essa precisão contrasta com o alucinatório dos conteúdos, um paradoxo que aprende tanto das cidades monumentais e fantasmas da pintura de Giogio de Chirico, como na contemplação das íngremes rochas de Cadaqués.



Vertigem (1930)



Meia chávena gigante voadora com inexplicável anexo de cinco metros de altura (1944-45)



A atribuição às imagens de propriedade contraditória relativamente àquelas que têm na realidade quotidiana, é um dos recursos mais conhecidos do método paranóico-crítico de Dalí. A mais famosa das suas sequelas é a representação de objectos moles ou derretidos.
A moleza pode afectar, na pintura de Dalí, quase qualquer objecto sólido e, em geral, indica a sua condição de espectro ou fantasma, de consciente vestígio do mundo do sonho.
No caso dos relógios, a imagem tem implicações mais profundas, aludindo à relatividade da interacção espaço-tempo, ou seja, à chamada, "quarta dimensão".
Não se deve esquecer, em todo o caso, que o mole é para Dalí o digerível, o substancial, em oposição ao duro, impenetrável e irredutível.



Ossificação Prematura de uma Estação (1930)



A persistência da Memória (1931)



Instrumento Masoquista (1933-34)



Nalgumas ocasiões Dalí pintou quase literalmente sonhos ou visões, com um argumento mais ou menos reconhecível; aquele que o pintor recordava ao acordar e que se esforçava por manter vivo, na vigília. Nesses casos aparece no quadro a imagem de uma criança que assiste como testemunha à visão, alegoria da memórica onírica e delirante do pintor que tem as suas raízes na infância.



O Espectro do Sex-Appeal (1934)



Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romã um segundo antes de acordar (1944)



Dalí com seis anos de idade (1950)



Dalí depressa abandona a exploração das linguagens da pintura moderna. Do surrealismo interessa-lhe sobretudo a possibilidade de atingir uma nova temática, como é o caso do mundo dos sonhos e dos desejos.
Nos anos trinta aparece a obsessão por El Angelus de François Millet e por outros mestres do século XIX, ignorados pela vanguarda, como Meissonier ou Fortuny.
A partir dos anos quarenta aumentam as referências aos grandes clássicos da pintura como Piero della Francesca, Vermeer ou Velázquez, até à fascinação pelas Pietá de Miguel Ângelo.



O Angelus arquitectónico de Millet (1933)



Primeiro estudo para a Madona de Portlligat (1949)



A Madona de Portlligat - segunda versão (1950)



Cristo de São João da Cruz (1951)



A estação de Perpignan (1965)



A arquitectura arte-nova de exuberância orgânica e vegetal, fascina o pintor, familiarizado desde cedo com a obra de Gaudí e a arte-nova catalã. Para ele trata-se de uma "arquitectura de desejos solidificados". Nessa linha, a metáfora gastronómica, as noções alimentícias e o canibalismo, são uma das constantes mais significativas do pensamento e iconografia dalinianas.
Tudo aquilo que se come sofre uma metamorfose que transforma o duro em mole. Comer pode entender-se como uma metáfora paranóica do conhecimento: a maneira como o sujeito incorpora em si mesmo aquilo que lhe é alheio.



Gala com duas costeletas de carneiro em equilibrio sobre o seu ombro (1933)



Canibalismo de Outono (1936-37)



O Momento Sublime (1938)



Por detrás da personagem excêntrica esconde-se um pintor de ampla cultura, muito dado a curiosas e variadas leituras.
Prova disso é o seu interesse pelas rodas da memória e outros mecanismos intelectuais relacionados com a mnemotecnia medieval e renascentista.
Essas fontes tiveram um grande poder de sugestão sobre Dalí, traduzindo-se nas figuras-móvel características de muitos quadros pintados ao longo da sua carreira.



O Móvel Antropomórfico (1936)



Girafas Incendiadas (1936-37)



Espanha (1936-38)



A partir dos anos quarenta e cinquenta, Dalí manifesta uma curiosidade cada vez maior por algumas descobertas recentes da ciência, especialmente pelas que estão relacionadas com a física nuclear e a biologia molecular. São muitos os quadros que fazem alusão a estes assuntos, alguns realizados inclusive com a colaboração de cientistas.



As três esfinges de biquini (1947)



Equilíbrio intra-atómico de uma pena de cisne (1947)



Leda Atómica (1949)



Galáxia das Esferas (1952)



A repercussão do imaginário de Dalí na arte e na cultura do nosso tempo é incontestável, desde a arte pop ao cinema e à literatura.
Ainda que seja talvez o pintor moderno mais conhecido do grande público, a sua obra tem sido sempre discutida, mesmo que a polémica se tenha centrado mais em torno do personagem Dalí. Do egocêntrico e extravagante Dalí!



OBJECTOS




(1936)



(1936)



(1954)



(1959)



(1960)



(1969)



(1972)



(1976)



(1984)




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(imagens de www.dali-gallery.com e www.virtualdali.com)

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